Falando a verdade em amor

Relendo “Falando a verdade em amor: aconselhamento em comunidade”, de David Powlison, chamou-me a atenção a seguinte frase: “Nós resistimos ferozmente a ver-nos como Deus nos vê, porque relutamos em ver Deus como ele é” (p.40). De fato, nosso comportamento interpessoal, relacional, religioso depende muito do modo como vemos Deus. Enganamos a nós mesmos porque queremos enganar Deus. Não queremos enfrentar o Deus que nos governa. Não queremos depender de alguém. Nosso orgulho não nos permite entregar nossas ansiedades à outra pessoa. Queremos resolver tudo, e do nosso jeito. Então, nos rebelamos contra aquele a quem devemos nossa vida: Deus. E tentamos dar outras justificativas aos nossos problemas. Preferimos chamar de pulsão de morte, consciência de classe, transtornos psíquicos, porque é mais fácil do que chamar toda nossa debilidade de pecado. E pior: mesmo quando sabemos disso, não queremos entregar nosso pecado a Cristo. Preferimos carregá-lo e tentar uma forma religiosa para jogá-lo fora. Preferimos deuses falsos, que acalentam ou que são tiranos, que pedem esmolas religiosas ou gratificações cerimoniais em vez de desejarmos o Deus justo, que também é gracioso, cuja expressão absoluta está em Jesus Cristo. Somos ludibriados por nossos corações e convencidos a "fazer alguma coisa" para ser salvos. Confiamos em nós mesmos ou em outras pessoas ou coisas que nós mesmos elegemos como sendo os recursos seguros para escaparmos do inferno. Criamos um deus à nossa imagem e semelhança e tentamos projetar nossa glória nele em vez de vermos a glória dele em nós. Então, uma cosmovisão cristã correta nos faz primeiramente ver quem Deus é para depois compreender quem nós somos. Nossa antropologia só pode ser corretamente definida se antes compreendermos nossa teologia. Se a nossa teologia se equivocar, também estaremos equivocados quanto à nossa antropologia. E passaremos a buscar alternativas em outras fontes não revelacionais para justificar nossas falências. Então, falar a verdade em amor é dizer ao outro o quão perdido ele está, caso opte por autogoverno ou autojustiça, e construa para si um deus à sua imagem e semelhança, tentando manipulá-lo como um escravo. Deus quer servos que sejam convictos de sua dependência dele e que construam suas vidas a partir de uma visão genuinamente correta do modo como foi divinamente revelado.

Comentários

Unknown disse…
Belíssimo texto!!! Uma boa leitura como esta proporciona a nós melhoras em nosso comportamento enquanto ser humano!!!